Há uma insurreição, não há lideres: ela se basta. Eis que - TopicsExpress



          

Há uma insurreição, não há lideres: ela se basta. Eis que chegara o tempo do crepúsculo dos ídolos que Nietzsche profetizara. Por Lucas de Alvarenga Gontijo Morreu no início da madrugada de hoje, 27 de junho de 2013, o jovem Douglas Henrique de Olivira, de 21 anos. Caiu do Viaduto José de Alencar, que corta a Av. Antonio Carlos, em Belo Horizonte, não se explica. Durante o jogo da FIFA, 55 mil manifestantes marcharam da Praça Sete às imediações do Estádio de Futebol Mineirão. Douglas era um dentre tantos. “Não há lideres”, exclamam vozes perplexas, como se fosse necessário. Vejo que cada manifestante portar sua mensagem, seja num cartaz, numa postagem virtual, entoando a voz no coro das passeatas. Expressões límpidas de democracia, eu diria. E quem precisa de ídolos ou líderes, que sejamos nós mesmos os agentes, nietzscheanamente falando. A soma das ideias propicia a formação de uma rede de apoios, reais aos pulmões e cores na rua, virtual quando se clica num “curtir”, comenta-se, compartilha-se. Os sensibilizados com as causas tanto corroboram seus parceiros, como passam a contribuir para o movimento de difusão, debate e crítica das ideias em pauta. Lembrei-me dos comícios das Diretas Já, havia palanque e programação de quem discursaria. Lembro-me de que vibrávamos com os brados dos políticos profissionais, crentes de que nossa demanda por democracia e justiça social iria vigar. Hoje, talvez, ninguém teria paciência para servir de plateia para único político profissional, pedindo apoio. É preciso perceber que novas concepções de democracia estão sendo criadas, testadas, sugeridas. O povo brasileiro quer ser agente político, quer fazer a historia. Trata-se de uma insurreição. E o que há de mais inusitado num movimento como este é que ele não se dá às previsões. Nenhum cientista político sério ousaria tirar sua bola de cristal do bolso e profetizar o futuro. Mesmo porque o futuro simplesmente não existe no tempo presente, ele não pertence ao que foi dado, ao experimentado, o tempo atual é de vanguarda, de transformação. Tenho uma hipótese, creio que a insurreição que assistimos agora já havia sido anunciada no ano de 2012, quando São Paulo e Florianópolis assistiram o levante das penitenciárias, com queima de ônibus público e agentes policiais como alvo de impetuosos atiradores. Queima de ônibus, símbolo da revolta contra o transporte público é muito peculiar. Penso que exista, ainda oculta, uma grande tensão pelos usos dos “espaços públicos”; Uma imensa e até mesmo famélica periferia se alastra horas-luz de ônibus dos espaços ajardinados do Brasil prospero. Há um perigo eminente, entretanto. Se as penitenciárias se rebelarem agora, se os ataques aos policiais se deflagrarem neste delicado momento, temo uma falência momentânea das instituições públicas e um possível crescimento desgovernado da tensão social. Tensão social é muito delicada e exige de todos envolvidos, sobretudo das autoridades governamentais, prudência, bom senso e, sobretudo, respeito aos direitos. Se o Estado cometer qualquer descumprimento da Lei, estaremos nos aproximando de um estado de exceção, e aí a referência da violência se perde. Espero que os governos municipal, estadual e federal, no uso de suas forças de defesa social, saibam muito bem ministrá-las. É preciso proteger os comerciantes que estão revoltados porque a polícia não coíbe a depredação e nem os saques. Isso seria ineficiência da polícia? Faz-se múnus público proteger os manifestantes, a população e a propriedade particular e pública. Mas perplexo reflito, será que o Secretário de Segurança e o Governador esperam que os depredadores sejam confundidos com os manifestantes? E por isso não reprimem as depredação e saques? Será que querem ver o caos e, então, tenham justificativas para intervir de modo não pautado na Lei? Tenho dois receios: temo a direita radical, fascistas existem, embora se escondam da luz do dia. Mas muito grave será se o Estado se perder na ilegalidade, como aconteceu na Ditadura Militar de 1964 a 85. Devemos nos manter atentos à Lei, aos princípios do Estado Democrático Brasileiro. O Brasil atravessa um momento delicado porque atravessa mudanças. Mudar implica certas tensões e medos. No medo de aninha o radicalismo, para combatê-lo, precisamos da Lei.
Posted on: Thu, 27 Jun 2013 22:04:34 +0000

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