MANUEL GUSMÃO VARIAÇÕES DO BRANCO Ergues o olhar: surpreendes - TopicsExpress



          

MANUEL GUSMÃO VARIAÇÕES DO BRANCO Ergues o olhar: surpreendes por instantes essa hora em que o mundo envelhece: ténues as variações do branco parecem dissolvê-lo numa longínqua música, anterior à chuva Ou será então a imagem submersa de um filme a preto e branco Há próximo um branco vibrante: o da cal ainda recente mas que a humidade salina já a espaços mordeu, recortando as feridas cinza na varanda a que vens. Não há ninguém aqui. Quem te chame, digo. Há o branco baço na parede que em frente em vão separa rua e praia. Tendo já transposto essa fronteira incerta ou erguendo-se para lá dela há o branco pobre da areia: As dunas plenárias sustentam os corpos deitados de mar e céu. Aí é agora o grande branco: o clarão velado e difuso que guarda e distribui a memória embaciada do azul e do verso, do oiro e da prata – uma lembrança vã. Tu escreves no visível do mundo essa névoa branca e desolada que o motor da paisagem produz. As folhas do ar são como se fossem as levíssimas pétalas, as vagas sílabas de uma neve – e essa névoa engolfa, atrasa e apaga na travessia os simulacros das coisas supostas e imaginadas que o mundo te envia enquanto esperas por alguém que não virá Migrações do Fogo, Caminho, Lisboa, 2004.
Posted on: Mon, 02 Sep 2013 21:43:13 +0000

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