Os anos de chumbo derretido Para terminar o assunto de como - TopicsExpress



          

Os anos de chumbo derretido Para terminar o assunto de como funcionavam os jornais gaúchos em geral e a Zero Hora em particular, na segunda metade dos anos 1960: escrevi na edição de ontem que o jornalista Ary de Carvalho passou por maus bocados antes de vender o jornal para Maurício Sirotsky. Sem capital de giro e sem muito crédito na praça bancária, chegou a atrasar os salários dos funcionários, com exceção para a turma da oficina. Os jornais daquela época ainda usavam os linotipos, gigantescas máquinas de escrever que usavam chumbo derretido para formar blocos de texto. Como o ponto de fusão deste metal é baixo, o operador “datilógrafo” batia no teclado como hoje se faz no computador. As letras então eram formadas a partir do chumbo derretido, que solidificava em seguida. Um montador juntava as frases em blocos, que depois formavam as páginas. O Ary não atrasava a grana deste pessoal por um motivo forte. Época do regime militar, milico olhando com lupa os textos jornalísticos para ver se abordavam guerrilha, tortura ou passavam mensagens cifradas em textos inocentes, que às vezes era paranoia, ás vezes não. Quando o salário não vinha, o pessoal das linotipos botava um caco comprometedor nos textos. Um editorial que elogiava o governo militar de repente recebeu um corpo estranho, mais ou menos assim: “Não sem tempo a Presidência da República deu um basta aos corruptos e por isso mesmo OS PUTOS NÃO NOS PAGARAM....”, e depois vinham o texto normal. A sacanagem foi descoberta a tempo, mas, caso a edição de ZH chegasse às bancas, seria um desastre. Vai explicar para milico que aquilo era sabotagem, vai. Depois dessa, linotipista passou a receber até mesmo antes dos demais funcionários.
Posted on: Fri, 16 Aug 2013 03:04:14 +0000

Trending Topics



Recently Viewed Topics




© 2015