Parte 3 “A maior de todas as batalhas É lutar contra si - TopicsExpress



          

Parte 3 “A maior de todas as batalhas É lutar contra si mesmo” Dois anos se passaram. Enfrentaria, pela primeira vez, um emprego. As dúvidas, o medo, a insegurança eram permanentes. Para a família, me tornei o orgulho: estudar, trabalhar, era o máximo, apesar do aspecto de pessoa normal e equilibrado. Só eu sabia dos fantasmas que rodeavam minha vida. Meus defeitos de caráter, se expandiam. Estávamos na primavera. Meu conflito aumentava, e, paulatinamente, eu era uma bomba prestes a explodir. O pavor de decepcionar aqueles que confiaram em mim, doía lá no fundo de minha alma. Dia a dia criava novas fantasias e me valia de mentiras, para proteger-me, ou me afirmar, perante os amigos. Minha credibilidade, estava em decadência. Um fato aqui, outro ali, fazia ver que meu mundo irreal estava prestes a ruir. Ainda não era a minha derrota, era o começo de uma longa jornada, que me levaria ao nada. A cada dia, eu esculpia uma imagem deformada e degradante, caminhando a passos largos para a decadência total. Meus amigos e eu saíamos todas as noites, sempre à procura de novas emoções. Certa noite, sei que, nem porque, resolvemos tomar umas e outras. Nesse momento, percebi que a bebida não me dava coragem, mas me tirava a vergonha, e assim eu podia dançar, conversar com as pessoas, me permitia, inclusive, cantar. Que alegria! Parecia que eu encontrara o elo perdido. Dizem que, quando o diabo inventou a bebida alcoólica, escreveu em seu rótulo os seguinte dizeres: “Em cada doze desta bebida, há separação de lares, desastre, assassinato, morte prematura, choro de mãe e lágrimas de filhos.” tentou ele fazer alguém beber, mas com este rótulo, ninguém quis arriscar-se. Então, voltou para o seu laboratório, tratou de pingar sete gotas de felicidade, ofereceu às pessoas e elas tomaram. Por causa de umas poucas gotas de felicidade, muitas vezes nos tornamos vítimas de todos os dizeres previamente escrito no rótulo daquela invenção infernal”. Era o início de uma triste e nova etapa de minha vida. Eu, que não podia coordenar, nem a minha vida, após o primeiro gole, tornava-me conselheiro, às vezes. até filósofo de botequim, realmente, era um grande avanço. Por incrível que pareça, meus parentes e amigos garantiam que aquelas bebedeiras passariam, bastava que eu me casasse. Só assim criaria juízo. O tempo passava e, para não ficar só, procurava novos amigos, até que a situação chegou a um ponto em que as pessoas que prestavam atenção as minhas conversas eram os alcoólicos (pés inchados, do pescoço fino), já em fase terminal. Comecei a sentir vontade de morrer, cheguei a pensar no auto-extermínio. A coragem era pouca. Entre ressaca, presepada e vergonha, eu paralisava temporariamente minhas bebedeiras, isso só fazia crescer meu orgulho. Estão vendo! se eu fosse um alcoólatra, jamais conseguiria parar, mas sou homem, paro à hora que quero e bebo quando quero. Nestas altura, Deus fazia parte de um passado remoto. Fui decaindo, decaindo, mas, felizmente, cheguei a um leito de hospital Depois de vários exames, constatou-se uma cirrose hepática. Ao acordar, vi um velho médico, que me observava com carinho e atenção. Disse-me ele: Filho; está na hora de você acordar; lembre-se que todas as lutas travada com a bebida alcoólica, você perdeu. Alcoolismo é doença progressiva, incurável e de fins fatais, quem brinca com ela, terá uma morte prematura, ou poderá passar o resto de sua vida num manicômio, até mesmo em uma cadeia. Aquele médico e eu fizemos uma grande amizade. A ele eu confiava todos os meus tormentos, No final dos quinze dias de internamento, estávamos conversando a respeito do alcoolismo e Alcoólicos Anônimos, quando percebi que, nos olhos daquele bom médico, corriam lágrimas em abundância. Depois de disfarçar o choro por algumas vezes, disse-me:- Hà exatamente dois anos atrás, neste mesmo quarto, eu perdi meu único filho, aos vinte e dois anos de idade. Seu problema também fora o alcoolismo. Nele eu havia depositado todos os meus sonhos: sonho de ser avô, ou mesmo de assistir à sua formatura em engenharia. Ele tinha um futuro promissor: era inteligente e também um bom aluno. O alcoolismo não lhe deu a menor chance, interrompendo, ali aquele início de vida. Pra mim, restou a sua última imagem: aqueles olhos sem brilho, no seu instante derradeiro, quando disse, apenas: _Perdoi-me, papai! _O alcoólatra perde primeiro a fé, continuou o doutor, depois, perde a esperança, e, por fim, a vida. Naquele momento, pude refletir:_ Se eu continuasse naquela vida, fatalmente submeteria meus pais, aquele mesmo drama Meus pais, muito religiosos, faziam sempre as mesma perguntas: _Porque você bebe? O que esta faltando para você? O que estamos fazendo de errado? Porque se comporta desta forma? Apesar de ver um brilho de esperança nos olhos de meus pais, sentia também um tom melancólico, em suas vozes. Olhei para eles e tudo que consegui dizer foi: _ Pelo amor de Deus, me ajudem! No hospital os dias passavam lentamente. Aos poucos, recuperava minha saúde. O doutor Pedro Otávio, vinha me visitar (eu o chamava de o “bom velhinho”); trazia um brilho no rosto, sempre com um sorriso no olhar. Ele sabia que, com a ajuda de Deus, salvara minha vida. Feliz, ele me disse: _ Aqui salvamos o seu corpo, você deve procurar o Alcoólicos Anônimo, pois só assim pode salvar sua vida. Ouvi tudo aquilo, não respondi nada. Pensava comigo mesmo: _ Não sou alcoólatra, tenho mesmo é que criar juízo; vou provar para todos, que sou um homem. PARTE 4 “O orgulho fragiliza, e nos condena a repetir os erros do passado.” Passou o tempo, minha abstinência fazia aniversário. A cada dia, mais me gabava de ser macho; mais que para de beber, era provar que todos estavam errados. Com minha abstinência, logo arrumei um emprego, o que só fez realçar a minha prepotência. Dizia a todos: _Estão vendo, quem tem competência, não fica desempregado. Tudo era orgulho, eu era a própria vaidade. Os dias de vaca magra passaram, dali para frente o céu seria o limite. Alguns meses depois, consegui minha primeira promoção. Meu salário dobrou, decide comprar um carro; afinal de contas, não ficava bem um chefe de cessão andar de ônibus. Tudo que estava acontecendo, para mim, era o máximo. Em apenas um ano e meio de serviço, após sair de uma clínica, já havia conseguido muito mais que meu pai conseguira em toda a sua vida. A vaidade era tamanha, que não me sobrava tempo para agradecer a ninguém, nem mesmo a Deus. Dia primeiro de julho, estacionava meu carro, defronte a uma loja, quando senti alguém tocar em minhas costas. Antes que me virasse, eu, ouvi uma voz que dizia: _ Ei, milionário, não se lembra mais de seus velhos amigos? _Voltei-me rapidamente. Aquela voz, eu reconheceria, em qualquer lugar. Senti o corpo todo tremer, um gelo esquisito no estômago, meu cérebro era como se flutuasse. Aquela voz, eu já mais a confundiria, era dela, de Suélen, minha primeira e única paixão. Naquele momento pude sentir que nem o tempo, nem distância eram capazes de apagar um grande amor. Nessa hora, senti-me como um verdadeiro adolescente, inseguro e feliz. Conversamos um longo tempo. De repente, sei que, nem porque, fizemos silêncio; era como uma interrogação aparecesse entre nós, era como ter medo da resposta, antes da pergunta. Era só perguntar: _Você se casou? mais a coragem nos faltou e deixamos que o tempo nos respondesse. Convidei-a então para almoçar. Com um breve sorriso nos lábios, ela aceitou. Almoçamos, sob o impacto daquele encontro repentino. Apesar da certeza, de nossos sentimento, mesmo assim a pergunta continuava atravessada em nossas gargantas. Por fim, enchendo-me de coragem, perguntei: Suélen você se casou? _Não! _Respondeu ela com um belo sorriso no olhar. Em seguida, devolveu-me a mesma pergunta: _E você, porque não se casou? _Eu, por minha vez, respondi com toda a honestidade do momento. Contei todo o problema que tive desde que nos separamos. Falei sobre o meu alcoolismo, que não me dera tempo nem para amar, até o dia que fui internado em um hospital, começando dali uma nova caminhada. Saímos do restaurante, sentindo como se uma aura mágica nos cobrisse, separando-nos do resto do mundo, reservando para nos, toda a felicidade do universo. Fomos para sua casa, brincando como duas crianças. Naquele momento encantado, não tivemos a menor vergonha de sermos felizes. Daquele dia em diante, não mais perdemos o contato, a cada encontro, solidificavam-se nossos sentimentos. Em setembro, convenci-me que minha vida não teria sentido, se perdesse Suélen. Naquele mesmo dia, eu a procurei. Contei a ela que estava vivendo os melhores dia de minha vida. Antes de qualquer resposta, perguntei se ela queria casar-se comigo? Suélen sorrio com a alma, e me abraçou com ternura. Senti uma sensação indescritível, parecia estar dentro de uma bolha de sabão que flutuava a deriva. Continua...
Posted on: Thu, 29 Aug 2013 00:29:23 +0000

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