Se meu cachorro mais novo tivesse a idade humana, teria hoje 60 anos, como mostram as tabelas de conversão encontradas em clínicas e hospitais veterinários. De mais novo, tornou-se mais velho do que eu. Viverá, provavelmente, mais cinco, seis ou sete anos. Alterações do comportamento são possíveis num cão idoso. Pode ser que ele fique abatido, desanimado, silencioso, cansado, sonolento. Mas esta condição não é exclusiva do mundo animal. Flores também murcham, às vezes horas depois de se abrirem. Tudo na natureza fenece. Parece que ela reconhece os seus prazos, se entregando, abatida, ao fim dos seus dias. Quanto a nós, humanos, cumprem-se os versos do admirável Casimiro de Abreu: Ri, criança, a vida é curta, O sonho dura um instante. Depois... o cipreste esguio Mostra a cova ao viandante! Mensagem triste a da decrepitude. Mas triste somente na aparência. Sabemos que Deus permitiu que o homem envelhecesse de um modo muito especial. Na escala biológica da evolução, somos os únicos seres vivos dotados da possibilidade de morrer em estado de graça. É que a esperança do idoso possui mais aroma que a esperança do jovem. Este se apronta para o sucesso. O velho, para o regresso. Franzino, debilitado, solitário, o homem de cabelos brancos troca a fraqueza do seu corpo pela visão dilatada das coisas. Esta visão, fornecida pelos olhos espirituais, lhe fala silenciosamente de um novo corpo, o incorruptível corpo que o revestirá quando as sombras deste mundo ficarem para trás, anunciando a mensagem da libertação e o fim de todas (ou quase todas) as saudades...
Posted on: Fri, 15 Nov 2013 13:59:41 +0000
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