Trecho do diário de Vanka Márkelitch Estive recentemente - TopicsExpress



          

Trecho do diário de Vanka Márkelitch Estive recentemente envolvido em alguns cansaços por causa do dinheiro. Digamos que meu pai não me relegou qualquer tipo de herança fortuita; acabou-se, por dizer, em dívidas com o estado. Toda aquela terra, toda aquela união, me foge como se nunca tivesse sido de minha família, não posso nem começar a demonstrar meu desgosto com tal. Quando cheguei aqui na capital, porém, imaginava que nada seria tão difícil, afinal há diversas possibilidades para um rapaz como eu, jovem e disposto - dizia assim meu querido Iliúcha amigo do campo de verão. Mas nada tem sido algo tão fácil desta maneira. Ontem perdi o que me restava no whist da madrugada na casa do capitão; devo-lhe ainda uma quantia razoável, que me ajudara recentemente na minha locação no novo apartamento que estou alugando de velhos senhorios há algum tempo. Na verdade devo dizer que os últimos copeques foram sim em uma taverna que está nas proximidades da casa do capitão. E devo dizer que ótimo foi, nada é tão tranquilo se não for aos goles de conhaque da taverna. Este último trabalho de preceptoria que faço tem me rendido bons honorários, mas nada é tão difícil quanto o próprio trabalho. Não há alternativas, senhores, não há alternativas. Lembro-me, então, de Dubróvski de Púchkin: “Kirila Pietróvitch examinou todos estes documentos, e somente não ficou satisfeito com a pouca idade do seu francês, não porque supusesse tão amável defeito incompatível com a paciência e experiência necessárias para a infeliz condição de professor, mas por causa de dúvidas de outra natureza.” amável... infeliz... Não compreendo como é possível que um senhor possa de fato realizar tamanha tarefa com um rapaz como eu que tenho apenas a vontade de ensinar um francesinho pouco proficiente às suas queridas filhinhas. Em minha febre pela manhã delirava, mas não pude de maneira alguma me ausentar sob pena da falta do meu honorário e reprimendas do senhorzinho. Delirava mesmo com algumas mulheres, andava pelos arredores do Nievá e encontrava minha antiga prometida, aquela, e mais duas raparigas que acabei por conhecer no balé para o qual fora convidado pelo capitão. Elas me abraçavam molhadas da neve recém precipitada, e seus lábios estavam molhados - não conseguia definir se eram lágrimas quentes ou a neve quente em contato com a pele das belas mulheres. Em algum momento, porém, como é típico das ilusões e delírios de febre doentia, nos transportamos para um quarto que é exatamente aqui em Petersburgo, mas que de toda maneira eu reconhecia ser o meu antigo do casarão de meu pai no interior (mesmo tendo nada que se assemelhasse a tal). Imediatamente eu olhava-me no espelho com as mulheres e seus rostos estavam mascarados com alguma coisa que as faziam parecer cachorros: e meu senhorio as retirava de mim e me empurrava pela janela em direção ao Nievá. Mesmo em febre, saí da aula de francês para a garota e parti para a taverna e gastei até o último copeque em conhaque, e o resto no baralho. “οἶνόν τοι, Μενέλαε, θεοὶ ποιήσαν ἄριστον θνητοῖς ἀνθρώποισιν ἀποσκεδάσαι μελεδώνας.”
Posted on: Fri, 13 Sep 2013 02:12:22 +0000

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