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É interessante acompanhar o que acontece com uma banda como o Deep Purple, literalmente há décadas na estrada. Formada em 1968 na cidade de Hertford, Inglaterra, o lendário grupo lançou recentemente seu décimo-nono disco de estúdio, ironicamente batizado de "NOW What?!". Como ocorre com outros ícones que teimam em não encerrar as suas atividades (como é o caso de nomes como Rolling Stones e The Who, só para ficar em dois exemplos), ao ouvir um novo álbum do Deep Purple é preciso deixar o passado de lado e concentrar-se no presente. Evidentemente não temos aqui a energia exuberante dos anos dourados, bem como a criatividade sem limites que levou a banda ao topo. Em seu lugar surge a experiência e a maturidade. A idade avançada dos músicos - Ian Gillan e Roger Glover beirando os 68 anos, Ian Paice e Don Airey do alto dos 65 e o caçula Steve Morse com 59 -, ao mesmo tempo em que naturalmente impõe algumas limitações, compensa esse aspecto com a enorme trajetória acumulada. Produzido por Bob Ezrin, "NOW What?!" surpreende por trazer uma sonoridade refrescante, que cativa pela espontaneidade e pela sempre bem-vinda aura própria que o grupo construiu ao longo dos anos. Não há a sensação de estarmos ouvindo um trabalho feito apenas para cumprir tabela, muito pelo contrário: fica evidente a paixão, o envolvimento e o comprometimento com que o quinteto gravou o disco. E isso, em se tratanto de uma banda que está na ativa há 45 anos e já nos brindou com as suas obras-primas indiscutíveis, é um elogio sincero e um convite à diversão. O Deep Purple não faz mais música para adolescentes, para jovens que estão descobrindo o rock nesse exato momento. Para eles, "Machine Head" (1972) e "Burn" (1974) seguirão sendo as referências. O Purple de 2013 faz música para, primeiramente, cinco pessoas: Ian, Roger, Paice, Don e Steve. E, por consequência, para quem acompanha o conjunto há um longo período e, assim como os próprios músicos, também amadureceu, ficou mais velho, perdeu cabelos, ganhou peso e segue apaixonado pelo rock. Primeiro disco de inéditas em 8 anos, desde "Rapture of the Deep" (2005), "NOW What?!" é claramente superior aos últimos trabalhos, incluindo na conta também "Bananas" (2003) e "Abandon" (1998). Pode-se até afirmar, sem cometer exageros, que trata-se do melhor álbum do Deep Purple com Steve Morse desde a estreia do guitarrista na banda, em "Purpendicular" (1996). E o ponto-chave para essa certeza é improvável e atende pelo nome de Don Airey. Improvável porque Airey, na banda desde 2002, brilha em "NOW What?!" como nunca brilhou antes, imprimindo o seu toque pessoal à música do Purple, construindo essa identidade sobre o irretocável passado pintado com primazia pelo imortal Jon Lord. Airey respeita o legado de Lord, mas pela primeira vez não fica preso a ele, indo além com grande talento. Há em "NOW What?!" uma sólida coleção de faixas que, entretanto, exigem que o ouvinte esteja na mesma sintonia da banda. É preciso ter claro que você não irá ouvir aqui uma nova “Smoke on the Water”, uma nova “Mistreated”, uma nova “Child in Time”. Isso já foi feito. A sonoridade que chega aos ouvidos em "NOW What?!" é rica e cativante, com pequenos toques e elementos de vários estilos e histórias, diversas experiências e timbres que só poderiam vir ao mundo justamente por uma banda com músicos tão rodados e calejados como os do Purple. Gillan canta com muito bom gosto, sabendo usar a sua voz com sabedoria. Paice segue sendo um monstro na bateria. Glover mantém o groove sempre pulsando. Morse entra na jogada com riffs inspirados, enquanto Airey, como já dito, é o grande destaque, com solos que hipnotizam e intervenções sempre certeiras. Eu não esperava, a essa altura não só da minha vida, mas sobretudo da vida dos integrantes do Purple, ouvir um disco como "NOW What?!". Ponto para a banda, que mostra que, apesar da eterna reclamação dos saudosistas, ainda tem o que mostrar e está longe de se aposentar. Por mais que queira evitar o clichê, aqui ele se faz mais do que adequado: como um bom vinho, o Purple segue mantendo a sua qualidade mesmo com o passar dos anos.
Posted on: Sun, 07 Jul 2013 19:37:11 +0000

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