CALDOS E CAUSOS Elias Brasil - Essa sopa de ervilhas que o - TopicsExpress



          

CALDOS E CAUSOS Elias Brasil - Essa sopa de ervilhas que o senhor faz é muito gostosa, vovô. - Disse o pequeno garoto sentado num sofá velho e rasgado com o prato sobre as pernas. - Pois coma bem, meu filho. - Falou o avô numa voz cansada e pesarosa. Elias, franzindo a testa, olhou para seu avô enquanto levava a colher até a boca e notou naquele homem que o criou como filho um ar de angustia e uma respiração um tanto ofegante. Aquele homem sofrido, de cabelos brancos e pele queimada do sol havia trabalhava duro para garantir a seu neto o almoço e o jantar de todos os dias. Numa casa pequena e improvisada construída a beira de uma rodovia e com as mãos do próprio avô de Elias, os dois foram felizes e unidos enquanto a vida permitiu. O garotinho pôde aprender muito com os anos de experiência que o seu tão amado avô carregava nas costas e ensinava a ele através das historias que contava. - Venha, meu filho. Hoje te colocarei na cama mais cedo. E o garoto então, deixou o prato de alumínio vazio sobre o sofá e levantou-se. - Por que dormirei tão cedo hoje? - Perguntou o menino - Tenho algo importante a fazer e preciso que esteja dormindo. - Disse o avô caminhando de mãos dadas com o neto até o quarto em que dormiam. Numa cama feita com tijolos, o velho aguardou que seu neto deitasse para dar-lhe boa noite. E enquanto cobria o garoto com a metade de uma colcha velha, o homem conferiu o céu pelas várias frestas que haviam no teto e nenhuma estrela podia ser vista, apenas um vento com cheiro de chuva era sentido suavemente. E com a outra metade da colcha que estava sobre um colchão no chão, cobriu o garoto. - Por que está me cobrindo com sua colcha, vovô. - Porque vai chover esta noite. - Respondeu o velho. O menino, sem entender, ajeitou-se na cama e fechou os olhos para dormir. O avô, deu-lhe um beijo na testa e, em pé ao lado da cama, observou o neto por alguns minutos ate se retirar vagarosamente. - Não deixe de ir a aula amanhã. - Disse o velho caminhando pelo quarto rumo a pequena sala emendada à cozinha. - Você não irá me acordar? - Desta vez não. Preciso resolver algo muito importante. Descanse, meu filho. As pequenas gotas de chuva que entravam no quarto despertou Elias pouco antes do horário que costumava ser chamado por seu avô. O garoto, ao ver que o céu já começava a se colorir de azul pelas frestas do teto, levantou-se rapidamente para vestir o uniforme do colégio. - Vovô? - E ficou quieto esperando pela resposta do velho. - Já deve ter saído para o trabalho – Cabisbaixo, sussurrou para ele mesmo. Elias vestiu-se rapidamente e pegou seus livros e cadernos sobre a mesa. Mas uma agitação inesperada lá fora fez o garoto recuar assustado até um canto de seu quarto. - O que está acontecendo? – Perguntou-se abraçado aos livros. E um estrondo vindo da sala fez com que o pequeno garoto pulasse a janela de seu quarto jogando todo seu material ao chão. Um grupo com cerca de quatro jovens invadiam a casa de Elias, e o garoto, a poucos metros da casa observava indignado aquela cena. - Suma daqui menino. Essa casa agora é nossa. – Gritou um rapaz que segurava uma arma. Elias Brasil correu desesperado rumo ao trabalho de seu avô. Por quilômetros, o garoto se esforçou para chegar o mais rápido possível. Mas lá, Elias ofegante e ainda assutado, teve uma triste decepção. Um amigo de seu avô foi chamado por um dos porteiros da obra e deu ao garoto a pior de todas as notícias. - Como assim o meu avô morreu de madrugada? - Perguntou o menino sem, de fato, exigir uma resposta. Elias Brasil, sem esperar qualquer explicação do amigo de seu avô, saiu correndo pelas ruas congestionadas e movimentadas daquela cidade que lhe parecia ainda mais cinza. Sem ter mais ninguém no mundo, o garotinho caminhou até que o dia virasse noite e seus pés começassem a doer. Quando Elias parou pelo cansaço, olhou a sua volta e notou que não fazia ideia de onde estava. Era uma rua desconhecida de um bairro qualquer com muitas arvores, casas e alguns prédios. Mas ali mesmo, na calçada úmida pela chuva fina que caia e sob o toldo de uma padaria, Elias passou sua primeira noite sem o avô. E lá, o menino tão bem educado e amado por aquele velho agora era visto por alguns como mais um pivete de rua e muitas vezes, nem se quer, visto por outros. Ali, Elias passou frio e fome e, apesar de todas as oportunidades e facilidades do mundo do crime, o garoto preferiu seguir a mesma conduta de seu tão querido avô. Manteve-se firme em sua honestidade e para ganhar o seu almoço lavava os carros dos moradores daquele bairro de classe média. E assim, seus dias foram passando. Até que na noite em que completaria um ano do falecimento de seu avô, uma simpática mulher aproximou-se do garoto. - Olá, meu jovem. Qual o seu nome? - Elias. – respondeu desconfiado. - As vezes eu vejo você por aqui, mas vezes você some e fico alguns dias sem te ver. O garoto olhou para aquela senhora e tentou entender o que ela queria com ele. - Bom, meu jovem, quero te trazer um prato de comida. Tem algo que deseja em especial? Elias, com um acanhado e sincero sorriso respondeu no mesmo instante. - Sim. Quero uma sopa de ervilhas. Aquela mulher sorriu e prometeu que em uma hora estaria de volta com a sopa. Elias aguardou ansioso. Sentou-se exatamente onde estava e, mexendo em seus dedos, esperou pela simpática mulher. E uma única hora lhe pareceu uma noite inteira. Sentado, o garoto avistou a mulher ao longe atravessando a rua e caminhando lentamente em sua direção. O garoto então, cheirou sua blusa para conferir se o seu cheiro lhe permitiria abraçar aquela mulher que levaria a ele um prato tão especial. Mas nem mesmo Elias havia se acostumado com seu odor de suor misturado a poeira. E assim, por noites e noites, aquela simpática mulher garantiu a Elias o seu jantar e um banho toda semana durante quatro anos. O garoto acabou se tornando amigo de seu filho, Tomás, apenas alguns anos mais velho, mas também manteve uma paixão secreta por Ester, a filha caçula da simpática mulher. Um dia, após muitos anos de amizade entre os dois garotos, Elias foi convidado pela mãe de Tomas a jantar com eles para comemorar o aniversário de dezoito anos de seu filho. Então Elias, ansioso, chegou três horas antes do jantar segurando uma sacola em suas mãos, pois como combinado, o garoto tomaria seu banho e se arrumaria lá. - Comprei roupas novas para mim e para o Tomás. Veja! – Disse o garoto retirando as roupas da sacola. - A calça mais bonita comprei para ele porque sei que tem bom gosto. Acha que vai gostar? - Com certeza. – Respondeu a mulher com os olhos contidos para que suas lágrimas não escorressem. – Você é um menino de ouro. Elias sorriu e retirou-se rapidamente para tomar seu banho. E em menos de trinta minutos o garoto já estava vestido, perfumado e sentado no sofisticado e aconchegante sofá aguardando o amigo voltar da universidade. - Fiz uma sopa de ervilhas para você, Elias. Aceita-a agora? – Perguntou a mulher. - Não, obrigado. Vou esperar Tomás chegar para tomarmos juntos. E naquele mesmo instante a porta da sala se abriu. Elias, feliz, caminhou até a porta com a sacola nas mãos e os braços esticados. - Tomás! Meu primeiro presente de verdade para você. Aquele chiclete de alguns anos atrás não conta. Disse o garoto animado com a chegada do amigo. Mas Tomás, acompanhado da namorada e de seus colegas da universidade, não falou uma única palavra. O seu silêncio e os risos discretos de seus colegas intimidaram o garoto que, pedindo desculpas, se retirou do apartamento de cabeça baixa e com a sacola nas mãos. Ester, que presenciou toda aquela comovente cena ao lado de suas amigas igualmente debochadas, correu para dentro de seu quarto. Lá, a menina chorou por alguns minutos. Não de vergonha. Ester chorou de pena daquele garoto tão sofrido que por anos frequentou aquele lugar. No elevador, de frente para o enorme espelho, Elias entendeu que alí não era o seu meio. O garoto sentiu-se demasiadamente bobo e humilhado. Então, envergonhado, trocou a tranquilidade das ruas daquele bairro seguro, pelas ruas perigosas do centro daquela cidade grande. E lá, entre o caos e com dezesseis anos de idade, Elias foi explorado, sentiu medo, sentiu raiva, bateu, apanhou e foi verdadeiramente humilhado. Até que numa linda tarde de primavera, Elias sorriria alegre novamente. Enquanto o garoto vigiava os carros estacionados na rua, sua antiga paixão, Ester, dobrou a esquina e lá, de longe, os dois se reconheceram. A menina caminhou com passos largos e rápido em direção ao garoto que se manteve imóvel, sem acreditar no que via. - Elias! Quanto tempo. Então é aqui que você está agora? Eu e minha mãe procuramos por você durante muitos dias. E Elias, com um sorriso de quem se sentia importante respondeu: - Aqui eu consigo ganhar um pouco mais vigiando carros. A menina, com um olhar triste, notou seu amigo bem mais magro. Obviamente não deveria estar se alimentando. - Me espere aqui daqui dois dias. As sete horas da noite te trago uma sopa de ervilhas. E Elias Brasil sorriu por dentro e por fora. - Combinado! Assim, aqueles dois dias foram longos e tediosos. Nada fazia o tempo passar e sua ansiedade aumentava a cada minuto. Elias tentou conseguir um lugar para tomar um banho, mas foi em vão. Nem mesmo o clima contribuiu, pois os dias que se passaram foram de muito sol e céu azul. - Boa noite! Era a voz mais doce que os ouvidos de Elias haviam escutado. - Boa noite, Ester. Respondeu o garoto com um girassol na mão. A menina sorriu e tirou a flor das mãos de seu amigo. - Obrigada, Elias. E aqui está a sua sopa. O garoto, exalando felicidade, sentou-se ao chão. Destampou a vasilha de plástico e se deliciou com a sopa de ervilhas. - Eu mesma fiz para você. O que achou? Naquele momento o garoto se sentiu especial, como nunca havia se sentido anteriormente. - Está uma delicia. E Ester, agachou-se para perto de seu amigo e ali permaneceram os dois um bom tempo a jogar conversa fora. A sopa acabou e o assunto rendeu por mais alguns minutos até uma movimentação começar no quarteirão de baixo. - Acho melhor você ir. Disse o garoto a sua amiga. Ester se levantou rapidamente dando um forte abraço no amigo. - Voltarei mais vezes para lhe trazer a sopa de ervilhas. - Vá Ester, vá! E quando a menina caminhava um pouco mais a frente, Elias pode escutar o grupo de meninos de rua se referirem a Ester e, muito rapidamente, o garoto correu e avançou sobre o grupo na tentativa de defender sua amiga. Elias, como nunca se envolvera com o crime estava desarmado e vulnerável, mas convicto de que nada deixaria acontecer a Ester. Assim, um dos pivetes travou-lhe um canivete no pescoço fazendo com que Elias Brasil caísse no chão. Os marginais de rua fugiram e Elias, ali, caído, observou aquela menina tão especial, que jamais saberia de sua paixão e de seu ato heroico, caminhar em direção oposta até sumir de vista. Mayra Sopa de Ervilhas 1 pacote de ervilhas ou lentilhas secas de 500 g 1 cebola pequena 1 dente de alho 1/2 xícara de chá de azeite de oliva 2 folhas de louro MODO DE PREPARO: Em um caldeirão, coloque as ervilhas secas, com 2 litros de água Deixe de molho por 2 horas Leve para ferver juntamente com o louro até se desmanchar (retire a espuma) Bata a ervilha no liquidificador, e reservar No mesmo caldeirão, faça um refogado com azeite, cebola e alho. Junte o creme de ervilhas e água se necessário Deixe cozinhar até formar um creme mais ou menos espesso Adicione sal a gosto e queijo ralado.
Posted on: Wed, 02 Oct 2013 06:25:14 +0000

Trending Topics



Recently Viewed Topics




© 2015