BACAZINHO, O MELHOR TIME DO MUNDO! Eu assinava uma coluna diária - TopicsExpress



          

BACAZINHO, O MELHOR TIME DO MUNDO! Eu assinava uma coluna diária no extinto Jornal de Hoje sobre futebol, cujo título era “Nonato Reis comenta”. Por abordar temas polêmicos e escrever com extrema autonomia, as crônicas acabavam tendo forte impacto na área esportiva, o que, se de um lado me dava visibilidade, de outro, provocava críticas as mais diversas. Uma delas, genérica, é verdade, mas que perdura até os dias atuais, é a de que todo comentarista de futebol, no fundo, é um treinador frustrado. Tomei aquilo como um desafio e decidi topar a parada. Aproveitando que a colônia de vianenses, em São Luís, sempre foi extensa e à época reunia gente de inegável talento com a bola nos pés, formei um grupo de pelo menos 18 atletas, quase todos primos ou parentes distantes. Como a maioria era egressa do Ibacazinho, povoado em que nasci, resolvemos batizar o time com o nome de “Bacazinho Esporte Clube”, numa alusão à forma jocosa com que os habitantes originários das margens do rio Maracu eram tratados pelos vianenses da cidade. Queria um time que ocupasse ao máximo os espaços do campo, o que implicava uma enorme dinâmica entre os atletas, fazendo com que, exceto o goleiro, todos pudessem se movimentar dentro do gramado. Nossa estrela era o Ademir, um jovem bom de bola, com características de meia ofensivo e centroavante. A ele confiei a tarefa de organizar as jogadas e concluir. Tinha uma potência no chute espetacular. Chegou a treinar no Maranhão Atlético, e só não seguiu carreira como jogador porque seu negócio era outro. Na defesa eu contava com a experiência e o talento do Lourinho, aquele mesmo que foi expulso da escola por conta de um número “24” desenhado em sua blusa de farda. Lourinho tinha pleno domínio de bola, defendia e atacava muito bem, um zagueiro que, como poucos, sabia sair jogando e jamais perdia uma disputa de bola. Com ele, o goleiro e toda a defesa se sentia protegida. Outro destaque do BEC era o Louro, que, quando o time atacava, gostava de ocupar o lado direito. Louro tinha umas arrancadas magistrais. Exímio driblador, quando ele colocava a bola na frente e disparava naquela estreita margem lateral, seus adversários ficavam atônitos. Via de regra, ele alcançava a linha de fundo e lançava para o meio do gol, onde encontrava Admir, pronto para marcar. O certo é que, com um desenho tático super dinâmico e a quase perfeita harmonia entre defesa, meio de campo e ataque, o BEC fez história. Foram 52 jogos invictos, média de gols acima de 3 por partida e a façanha, até hoje jamais atingida por outra equipe, de nuca ter conhecido uma única derrota. O time se desfez naturalmente, quando os jogadores, cansados de sempre ganhar, perderam o interesse por competir. De todas as partidas que realizamos, duas eu destaco como memoráveis, ambas no interior do Estado. A primeira aconteceu em um campo do Ibacazinho. Foi contra a forte equipe do Maracanã, aqui de São Luís, que, como nós, não perdia há muitos jogos. Eles começaram vindo em bloco para cima, empurrando os nossos jogadores para o próprio campo de defesa. Foi uma estratégia inteligente, porque nos pegou de surpresa, e também perigosa, porque oferecia a possibilidade do contra-ataque, que era a nossa arma mais temida. Porém naquela tarde, nada dava certo. O time parecia amarrado, não conseguíamos dar seqüência a nenhuma jogada. Não demorou e eles balançaram as redes. Fomos para o intervalo em desvantagem, coisa inédita para o BEC. Fiz diversas modificações, mexi na defesa, troquei os dois laterais, coloquei Ademir mais recuado, tabelando com os alas. O time recuperou o ritmo. Num dos muitos lances de ataque, Louro driblou dois e deixou na medida para Ademir, que encheu o pé. A boa estufou as redes, selando o empate. Mas foi só. Criamos muitas oportunidades, mas o goleiro deles cresceu como um paredão, impedindo a virada. O outro jogo, que destaco muito mais pelo simbolismo do que pela partida em si, foi contra a Seleção de Viana. O BEC, então, colocava à prova uma invencibilidade de 51 jogos, contra um time acostumado a vencer, especialmente em seu território. Para o duelo, o time de Viana se reforçou com o meia Soeiro, então reluzente camisa 10 do Maranhão Atlético. E foi ele quem, logo nos primeiros minutos, aproveitando uma indecisão da zaga, matou no peito uma bola lançada da direita para a marca da meia lua, e de primeira a mandou no canto superior esquerdo do nosso goleiro, indefensável. Achei que nesse dia sairíamos derrotadas, mas após alguns minutos de desconcentração, o time se acertou em campo e começou a impor o seu ritmo. Não demorou e veio o empate. A essa altura já mandávamos no jogo, mas a igualdade no marcador perdurou até os 37 do segundo tempo, quando Ademir, após linda triangulação, acertou um chute rasteiro no meio do gol, que passou por baixo da barriga do goleiro, e estabeleceu o marcador final. Depois disso, enfastiado de vitória, o grupo decidiu se dispersar, decretando o fim do time. Estivesse em campo até os dias atuais, bastava o Santos emprestar as suas camisas ao BEC e teria evitado aquele vexame do último sábado no Camp Nou. O BEC jamais cairia de quatro, e muito menos de oito. Leia também em: nonatoreis.zip.net Jornal Pequeno, 04/08/2013
Posted on: Sun, 04 Aug 2013 10:30:37 +0000

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