Depoimento de Rodrigo Ferreira Rodrigues: Bom dia! . Sou pediatra há 10 anos. Especialidade, hoje, considerada a mais escassa no Brasil. Sou natural de Belo Horizonte onde tenho apartamento e família. Incluindo mãe de 78 anos que reside sozinha, pois sou filho único e meu pai faleceu há 20 anos. Assim que terminei a residência de Pediatria, optei por trabalhar no interior e mudei-me 3 dias depois para Pará de Minas, cidade ainda próxima de Belo Horizonte (90 km), onde eu tinha estudado o segundo grau. Em Belo Horizonte tinha já várias opções de emprego com plantões girando, em média, a 600,00. Poderia escolher até o dia. Entretanto fui para o interior, ganhando por plantão um valor de 150,00 e trabalhando também em postos de saúde. Única e exclusivamente para o SUS. Mesmo o valor total que eu recebia sendo inferior ao da capital e vendo meus amigos engenheiros, advogados, geólogos, dentistas etc construindo patrimônio, viajando e tendo progressão na carreira; permaneci ganhando menos e sem ter feriados, finais de semana, férias, 13o. ou qualquer outro, apenas com contratos temporários. Em 5 anos, era coordenador da pediatria do hospital e fui lutar por melhores condições. Fui perseguido e humilhado ao solicitar aparelhos respiradores, tubos para intubação endotraqueal, medicamentos e sim, melhor remuneração (em último lugar). Nessa altura já fazia pós graduação em Alergia e Imunologia, deslocando-me para BH quinzenalmente e pagando mensalidades que correspondiam a 50% da minha remuneração no hospital. Cansado de tudo isso, resolvi mudar de cidade e recebi uma proposta para atender em Pimenta/MG. Cidade com cerca de 8 mil habitantes (Pará de Minas tem cerca de 80 mil). Ofereceram-me uma remuneração de 10 mil reais para atender em unidades de saúde básica, área de pediatria, todas as manhãs e promover palestras e saúde básica, além de suporte por telefone aos médicos generalistas da cidade. Com essa oferta mudei para Piumhi, cidade ao lado de Pimenta (33 mil ha) e iniciei trabalhos. Fui obrigado a abrir firma e fazer um monte de procedimentos para poder receber. Recebi o primeiro mês normalmente. No segundo mês começou a atrasar e eu recebia com cerca de 20 dias de atraso, após reclamações e comecei a ser chamado de mercenário. Precisei pedir dinheiro emprestado, pois as contas venciam e o dinheiro não entrava. Meu e de mais 3 médicos do PSF atrasados, mas o do prefeito, secretária de saúde (mulher do prefeito), e mais dois da cúpula estavam sempre em dia. Com 6 meses de contrato (tipo firma, sem direito a nada), o prefeito me mandou recado que reduziria meu salário dos 10 mil combinados para 4 mil reais. Nesse ponto eu tinha montado consultório em Piumhi, comprado um lote e iria começar a construir minha casa. Dava plantão aos fds no hospital de Piumhi, mas o dinheiro dos plantões, no total, davam algo em torno de 2500,00/mês. Eu já estava acabando a segunda especialização, com qualificação em outra área carente: alergia e imunologia. Como precisava de dinheiro, me submeti a ganhar 5 mil e AUMENTAR o serviço em Pimenta, passando a dar sobreaviso na maternidade do município, que nem incubadora tinha, tanto é que agora é só um pronto atendimento. Sofri assédio moral de todas as maneiras pq contei ao povo o que estava havendo, quando o prefeito resolveu apoiar o deputado Edmar Moreira (o do castelo) e eu me revoltei pq o dinheiro que pagaria aos médicos ia pra campanha eleitoral. Honradamente cumpri meu contrato até o ultimo dia, que foi uma segunda feira, e saí de lá para a cidade de São Roque de Minas (menor que a de Pimenta), por vaga fornecida pela minha então namorada, que trabalhava lá há 4 anos, devido à minha dificuldade financeira. Após anos de trabalho em São Roque, fui demitido do nada, simplesmente pq um vereador não gostou de uma conduta correta minha em relação a uma criança que sofria maus tratos e eu ameacei denunciar. Ele alegou ao prefeito que naquela família seriam ao menos 15 votos. No meu lugar colocaram uma médica despreparada, mentiram que ela era pediatra e não era. Crianças ficaram graves e eu tive que segurar o rojão em Piumhi, no hospital referência, vendo nosso serviço de anos ir por água abaixo e ainda sofrer campanha caluniosa da prefeitura, que teve que justificar minha demissão para a população. Hoje estou bem, renomado, trabalhando no SUS e em Consultório, mas ainda tenho recebido salários atrasados toda vez que trabalho em postos de saúde. Não tenho férias, 13o., feriados, são raros os finais de semana, aguento agressões em pronto socorro e crianças adoecendo por falta de recursos e remédios. Mantenho-me no interior e construí minha vida aqui, casando e tendo filhos. Meu sonho é ter outra atividade que me dê retorno financeiro fora a medicina, para poder atender apenas às pessoas carentes (hoje consigo atender de graça no consultório e PAGAR medicação apenas para uns 3 a 5 por dia). Amo minha profissão, mas pela primeira vez penso em desistir totalmente dela, pois não vejo futuro após o que o PT e o povo está fazendo conosco. Sou honrado e persistente, mas estou a ponto de desistir! Detalhe: a região que moro se tornou próspera pela produção de café, mas nos últimos anos as prefeituras estão sucateadas pela política de repasse de verbas petista e, as populações carentes de agricultores e lavradores, em sua maioria vindos do norte de Minas e Nordeste estão em miséria e penúria, já que o governo não dá infraestrutura e os fazendeiros estão quebrando e o emprego acabando... Bolsa esmola não está resolvendo, pois o emprego está acabando. Obrigado e desculpe o tamanho do texto. Sem comentario...
Posted on: Fri, 30 Aug 2013 18:53:18 +0000
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