Hoje vou postar mais um conto: A primeira parte dde Um Vampiro - TopicsExpress



          

Hoje vou postar mais um conto: A primeira parte dde Um Vampiro Diferente. Aqui vai: O Vampiro Diferente “Onde o amor impera, não há desejo de poder; e onde o poder predomina, há falta de amor. Um é a sombra do outro.” Carl Jung. Ela para de frente para a chaminé, uma construção gigantesca e com mais de cem metros de altura. O local: a usina do gasômetro em Porto Alegre. Suspira fundo e, sem pensar, sobe aqueles incontáveis degraus da escada de ferro, feita por fora da sua estrutura. Nem sabe quanto tempo demorou, mas chega ao topo cansada e com dor nos músculos dos braços e pernas. Tranquilamente, senta-se na borda e olha em volta. O negrume do rio Guaíba preenche grande parte da sua visão, embora alcance muito longe e veja do outro lado da margem as luzes da cidade de Guaíba. No horizonte, a lua desponta como uma bola amarelada, enorme e muito brilhante, cercada por um halo de nuvens vermelhas que criam uma imagem muito surreal e de beleza fenomenal. Vira o rosto para trás e vê o centro de Porto Alegre, bem iluminado, embora muitas das arvores encubram a vista. Por ser cedo, os prédios estão com muitas luzes acesas nas janelas. Suspira e vira-se para o lado do rio. Olívia é uma garota de dezesseis anos e meio, estatura mediana e cabelos negros. Tem o corpo bem feito, embora ela não se ache bonita e use óculos, o que lhe dá um ar meio sério. Quando mais nova sofreu muito bullying na escola e isso fez com que ficasse amargurada, sempre com o rosto sisudo e raramente sorrindo. Por consequência, jamais um garoto se interessou por ela, apesar da sua beleza, e nunca namorou ou beijou um rapaz. Para sua maior tristeza, é perdidamente apaixonada pelo jovem mais bonito da escola, que nem sequer toma ciência da sua existência e, assim, a pobre moça fica decidida a pôr um término à sua vida. Infelizmente, Olívia não se atina que está apenas com uma crise típica da adolescência, muito agravada pelo fato dos pais serem separados e não notarem os problemas por que passa, sequer participando da sua vida. Ela praticamente não vê o pai e a mãe passa mais tempo com o namorado do que em casa. Nem mesmo acompanham o desempenho escolar da moça, embora este seja excelente e ela jamais tenha repetido um ano ou tido notas baixas. Sentada ali, pensa nessa usina, hoje transformada em um museu, e olha em volta, desgostosa da vida. Do bolso, tira um isqueiro e um baseado dos grandes, olhando para ele. Conseguiu a droga com uma colega que trafica dentro da escola e já havia visto como se fuma para se chapar. Acende e inspira, mantendo a respiração prensada por algum tempo, soltando a fumaça em seguida num ataque de tosse. Da segunda vez, consegue melhor e vai fumando tranquilamente, ciente que ali ninguém a vai flagrar. Os seus planos são bem simples e assustadores: decide drogar-se para criar coragem e pular dali de cima, pois sabe que não sobreviverá a uma queda de cento e sete metros. Calmamente, faz uma reprise da sua amarga vida, sentindo-se completamente segura naquele local, quando os seus pensamentos são interrompidos por uma voz suave que lhe dá um tremendo susto e faz com que quase caia pela beirada: – Mas bah, tchê, tu não me vais dar um peguinha dessa coisinha boa? – Segura-a para não cair e acrescenta, sorrindo. – Cuidado para não despencar. São mais de cem metros! De olhos arregalados, ela vira o rosto para o lado e encontra um rapaz, talvez dos seus dezoito anos, muito bonito. Ele tem olhos e cabelos escuros, mas a pele é demasiado branca. O corpo é esguio e sorri delicadamente para a moça, que lhe estende o cigarro de maconha. – Como apareceste aqui sem eu escutar? – Pergunta, muito curiosa com o jovem. – Qual é o teu nome? – Sou Gustavo Adolfo. – Responde, devolvendo o baseado após dar uma tragada. – E tu, como te chamas? – Olívia. – Oi, Olívia, lugar meio doido para se vir fumar unzinho. Sem falar que vais penar uma barbaridade pra descer daqui. – Eu vou descer da forma mais rápida e direta. – Responde com a voz tremida, mas decidida. – Não pretendo usar as escadas, Gustavo. – Bem, a menos que tu possas voar, o que é bem pouco provável, suponho que te pretendes suicidar. Sabes, Olivia, a vida é tão boa para se desperdiçar desse jeito... – Pois eu não vejo nada de bom na vida. – Interrompe-o, falando meio exaltada. – A minha vida é uma grande porcaria, uma grande e completa bosta. O garoto dá mais um pega, estendendo a droga para ela e sorrindo gentil. Olha para a moça e fica calado enquanto a vê tragar a fumaça. Logo depois, diz-lhe carinhosamente: – Não, Olívia. Os problemas podem ser solucionados ou contornados, mas o suicídio não. E trata-se de um caminho sem volta. Acredita que sei muito bem disso, pois sinto demais a falta de muitas coisas. Incrédula, fita Gustavo nos olhos, sem saber que opinião tirar a seu respeito. Ele é muito simpático e gostou do jovem desde o primeiro olhar. Nota que não tem o perfil de um usuário de drogas, tal e qual ela, e age de forma coerente e culta. Cada vez mais curiosa, questiona: – Como podes saber de algo assim se tu és tão real quanto eu, ou por acaso és um fantasma? – Pergunta, tocando nele. – Bah, o teu corpo está muito frio e o clima não é para tanto! Sorrindo muito, Gustavo Adolfo responde: – Eu estou vivo mas, ao mesmo tempo, não estou. Sou um vampiro, um ser imortal e condenado a ficar neste estado pela eternidade. Sou vítima de uma maldição. – Conta outra, tchê! Essa foi a lorota mais piradinha que eu já ouvi. Vampiro!? – A garota ri-se. – Isso é coisa para filme de terror e não existe. – O teu riso é belo demais, Olívia – afirma o rapaz – e falei sério ao dizer isso. – Pelo amor de Deus, deixa de falar bobagem... – É sério. – O rapaz interrompe. – Por isso o meu corpo é frio. – Olha, Gustavo, eu não pretendo discutir uma bobagem dessas e vim aqui para pôr um fim aos meus problemas... – Queres que te prove? – Questiona, sorrindo sempre e mantendo a serenidade. – Só espero que não te apavores. Todas as pessoas que ficaram sabendo fugiram apavoradas e isso me deixa demasiado solitário. – E como farias isso? – Ela fica curiosa, embora não acredite na hipótese dele ter dito a verdade. – Sinceramente, não consigo aceitar tal bobagem... – Simples, Olívia. – Gustavo levanta-se e sai andando como se fosse cair da chaminé; todavia, flutua no ar. – Viste? Eu posso levitar. A garota volta a arregalar os olhos. – Mas bah, que coisinha bem forte esta que eu fumei! – Afirma, olhando o cigarro pela metade. – E sempre me disseram que a primeira vez quase não faz efeito. Macacos me mordam! – Podes acreditar nos teus olhos, minha linda. – Tranquiliza-a, voltando a se sentar ao seu lado. – Como vês, eu sou realmente um vampiro. – E tu vieste aqui para sugar o meu sangue? – Questiona sem medo algum. – Já que, segundo as histórias de vampiros, é o que vocês fazem. Bem, talvez isso me poupasse um pouco. – Bah, não mesmo. – Afirma taxativo e abanando fortemente a cabeça. – Eu odeio sangue. É que estava muito solitário e sempre gostei de ti, pois tenho-te observado há alguns meses. Apenas queria a tua companhia e fumar um contigo. – Odeias sangue! – Ela ri novamente. – Mas os vampiros não se alimentam de sangue? – Sim. Entretanto isso não precisa de ser o único alimento deles. Afinal, somos indestrutíveis, exceto pela estaca no coração. Curiosa com tudo, característica inerente à sua personalidade, a jovem começa a fazer perguntas, fascinada com o que lhe está acontecendo. – Há muitos vampiros? – Não, somos poucos e solitários. Não nos damos bem entre nós. Aqui, em Porto Alegre, só existo eu. – E o que vocês fazem da vida? – Que vida? – Questiona, triste. – Eu não chamo isto de vida, Olívia. Não temos ninguém com quem partilhar algo, como vocês os mortais têm. Temos que viver de noite, pois o sol nos machuca muito. Ele não nos mata, mas provoca muito mal estar, porém eu consigo aguentar um dia não muito ensolarado usando protetores solares de fator muito alto. Os meus confrades são predadores, matando e alimentando-se de sangue humano. Eles não são maus e é apenas a cadeia alimentar, mas eu jamais consegui fazer isso. Prefiro conhecer as pessoas e adoro sentar com junto de alguém como tu, acompanhado de um belo baseado e um papo gostoso. – Sei lá. – A garota encolhe os ombros e olha para ele. – Talvez eu me desse bem sendo uma vampira. É difícil me transformar em uma? Gustavo olha para ela por bem trinta segundos antes de responder. Quando fala, a sua voz é séria e muito preocupada. Resoluto, responde: – Não é difícil não, mas nem penses que farei tal coisa. Jamais aceitaria ver alguém tão bela transformada em uma predadora assassina. – Eu não sou bonita, Gustavo... – Se tu não consegues enxergar o quão bela és, então precisas de trocar o grau dos óculos. Olha, já que a maromba acabou, que tal irmos a um barzinho juntos. Eu gostei tanto de ti! – Gustavo, eu não gosto da minha vida, estou cansada dela e pretendo acabar com tudo de uma vez por... – Por favor, Olívia, não faças isso... por mim. – A sua voz é de súplica. – Olha, vamos a um boteco juntos tomar algo e conversar. Depois, se desejares, eu te trago aqui de volta. – Tá bom. Afinal essa coisa dá uma sede danada, mas eu quero mesmo é ver se sou capaz de descer isto. – A garota dá uma risada meio estranha, já que a canábis fez algum efeito. – Ora, vamos voando. – Antes que a moça diga ou pense algo, ele abraça-a contra si e sai pelo ar, arrancando-lhe um pequeno grito de susto. – Melhor assim, não? No início, Olívia fica assustada mas acaba perdendo o medo e curtindo o passeio. A sensação de voar, assim solta, é maravilhosa e a jovem adora aquilo, sentindo algo novo, um principio de alegria, coisa que nem tem lembrança de quando foi a última vez que lhe aconteceu. Pousam numa rua escura, ao lado do parque Farroupilha, e caminham para um dos inúmeros bares do Bom Fim. Enquanto andam, o jovem toma a mão da moça, passeando ao seu lado. Ela, que nunca havia andado de mãos dadas com um rapaz, sente um pequeno arrepio e muito prazer naquele contato, apesar da pele fria do novo amigo. Alcançam o bar rapidamente e sentam-se, com o rapaz ajudando-a e pedindo uma cerveja para ambos. Após, olha para os seus olhos e questiona: – Então, Olívia, achas realmente que a tua vida é tão ruim apenas porque o garoto que pensas amar nem sabe que tu existes? Ou por causa das perseguições que sofreste em criança? Isso é bobagem e, em alguns anos, vais cair na risada com essas tolices. – Mas isso me faz sofrer muito, sem falar nos meus pais. – Comenta ela, triste. – E sou demasiado solitária... – Não, não és. – Interrompe-a, enfático. – Eu sou demasiado solitário. Tu tens milhares de pessoas como tu à tua volta! E eu, o que tenho? Nada! A garota nota a tristeza nos olhos do amigo. Pensando no assunto, conclui que ser transformada em uma vampira poderia ser uma alternativa para o suicídio, uma alternativa boa, pois teriam um ao outro. Em vista disso, afirma, reticente: – Bem, se me transformasses não estarias mais sozinho e eu poderia ser uma companhia para ti... – Não serias, Olívia, infelizmente. Passarias a me odiar por ter feito isso e a transformação mudaria a tua personalidade. Não tolerarias alguém igual a ti por perto. – O que te dá essa certeza, tchê? – Questiona meio chateada com a repulsa do jovem vampiro. – Afinal tu pareces bem bacana e és muito simpático. – Porque eu matei o vampiro que me transformou. Fomos amigos, mas eu passei a odiá-lo muito quando fui transformado. – Por que ele te transformou? – Questiona enquanto toma um gole da cerveja. – Pediste-lhe? – Não, não pedi e ele me enganou... – E se eu te pedisse, te implorasse? – Os seus olhos exprimem súplica. – Eu estou muito cansada da minha... – Acredita que não é uma solução. Além disso... Gustavo fica calado, reticente. – Além disso? – Pergunta Olivia, sempre curiosa. – Além disso, sou perdidamente apaixonado por ti. É algo que simplesmente não sei explicar nem a mim mesmo, mas essa é a verdade: eu te amo. A moça arregala os olhos, impressionada, enquanto ele toma ambas as mãos da Olívia e sorri, continuando: – Eu te amo muito desde aquele dia que caminhavas de noite, na volta do Zaffari1. Tu nem sabes, mas eu peguei um cara que te queria roubar e violentar. Ele vinha sorrateiro por trás, só que eu o peguei e saí voando com ele enquanto cobria a sua boca. Agora, ele não fará mal a ninguém, nunca mais. Depois disso, sempre dei um jeito de ficar perto de ti. – Bah, isso foi há uns seis meses! – Eu sei. Desde esse dia, sigo cada passo que tu dás. Eu te amo descontroladamente e não quero que tu sofras. Por isso apareci para ti, lá na chaminé. Vi que ias pôr termo à tua vida e acho que, desde que te conheci, senti uma coisa quente, muito especial e que preencheu a minha existência. Nunca encontrei alguém como tu, Olívia, nem mesmo antes de virar vampiro. A moça sorri, sentindo um calor no coração, algo que jamais havia experimentado antes. – Nunca me disseram algo tão doce e belo, Gustavo. – Afirma com a voz ligeiramente tremida. O jovem faz um carinho na sua face e afirma: – O teu sorriso é tão belo! – O vampiro aproxima-se do rosto da Olívia e, antes que esta possa pensar ou reagir, beija-a delicadamente. – Para mim, não há outro mais lindo. – Ninguém me acha bonita, Gustavo. – Afirma, bastante ofegante. – E nunca antes me haviam beijado. Olívia olha para ele, sorridente e com o coração disparado. Nunca imaginou que um beijo fosse algo tão gostoso e isso abalou-a completamente, desejando que ele a beije mais, que não pare. O seu devaneio é interrompido pela voz suave do Gustavo que lhe diz: – O que eu mais desejava era ser vivo e normal para namorar contigo, para estar ao teu lado, te encher de carinho e calor humano. Olívia sorri abertamente, sentindo felicidade ao se descobrir amada. Ambos conversam baixo, muito juntos, e ela deixa que Gustavo a beije continuamente. Deixar talvez não fosse o termo preciso, pois ela deseja esses beijos ardentemente. Nesse dia é quarta-feira e o bar está cheio, a maioria sendo casais. Ao longe, um jovem observa atentamente a moça. Ele está no outro extremo do bar, acompanhado de uma garota de beleza excepcional, mas simplesmente não consegue tirar os olhos da Olívia. É um rapaz de dezoito anos, atlético e muito forte. Possui olhos azuis, penetrantes, e cabelos castanho-claros. A namorada, uma loira de arrepiar, fala com ele que nem presta atenção, o que lhe rende um beliscão. Ignorando o que se passa, Olívia continua conversando: – Não imaginava como um beijo poderia ser tão bom, Gustavo, mas eu nem te conheço! – Exclama, falando de forma racional, uma característica bem sua. – E até há pouco tempo os vampiros eram, para mim, apenas lendas bobas e filmes de terror. Infelizmente, isso me faz concluir que não deve haver um futuro provável para nós. – Entendo. – Afirma Gustavo, triste. – Mas eu te amei tão logo te vi. Como podes notar, há coisas bem piores que esses problemas que pensas ter. – Tu não poderias voltar a ser normal? – Questiona, pensando em como seria maravilhoso se isso acontecesse. – Há uma lenda que diz que, se nós fizermos algo muito especial por alguém, poderemos ser redimidos, como uma reversão. Infelizmente, acho que se trata apenas disso, uma lenda. – Bem – conclui com a típica lógica feminina – se dizes que os vampiros são maléficos, então dificilmente algum deles teria feito uma coisa boa. – Tens razão – ele encolhe os ombros – mas eu nunca fui mau e já ajudei muita gente. Impedi até homicídios e estupros, como o que te ia acontecer aquele dia, de onde concluo que se trata apenas de uma lenda. – Por falar nisso, obrigada por me salvares. – Beija-o sorrindo e volta a falar. – Talvez não seja esse tipo de coisa boa que precisas de fazer. Pode, por exemplo, ser algo bem diferente, como fazeres alguém te amar pelo que tu és, apenas isso. Sei lá, mas... – A única pessoa que não morreu de medo de mim, quando soube o que eu sou, foste tu, Livinha, – Livinha!? – Ela dá uma risada. – Que doce! – Tão doce quanto tu és, minha linda. – Gustavo volta a beijá-la. A moça que está com o outro rapaz briga com ele e sai sozinha do bar. Este levanta-se às pressas e segue atrás, sem ser visto pelo par que continua conversando e aos beijos, ignorando tudo e todos. Depois de tomarem umas três cervejas, Olívia pede: – Vamos embora, Gustavo? Quero ir para casa. – Claro. Tudo o que quiseres. Desejas ir voando? – Não. Fiquei um pouco tonta e caminhar ajuda a queimar esse álcool, sem falar que moro perto daqui. Eu não estou habituada a beber. – Eu sei onde moras, Livinha. Enquanto caminham, o garoto pega-a pela cintura, feliz de estar ao lado da Olívia e sendo retribuído. Ela é a primeira a romper o silêncio: – Como era a tua vida, antes de seres transformado? – Não era o que se possa chamar de boa vida. – Responde, olhando para o seu rosto. – Eu era órfão e vivi nas ruas por muito tempo. Depois, acabei na criminalidade e fui levado a uma instituição correcional. Eu não gostava de roubar, mas era a única forma de não morrer de fome. Lá, conheci algo muito especial: os estudos. Comecei a estudar avidamente e devorava tudo o que vinha parar às minhas mãos. Descobri que tenho o verdadeiro dom para aprender qualquer coisa e uma professora, que me adorava, incentivava isso alegando que eu era um grande gênio e me tornaria um cientista promissor. Quando a pena acabou, ela conseguiu arranjar uma família, que me adotou, e passei a viver uma vida normal e bem tranquila, pois os meus pais adotivos eram muito ricos e simplesmente maravilhosos, que me davam muito amor. O meu irmão tornou-se um grande amigo e estávamos sempre juntos, onde fiz outras amizades com os companheiros dele. Quando tinha dezoito anos, fui enganado por um desses amigos, que era um vampiro. Ele me transformou e matou toda a minha família, alimentando-se do seu sangue. Por uns meses eu andei fugido, escondendo-me de tudo, com muito medo. Depois, veio a realidade e a fúria incontrolável de buscar vingança. Eu cacei-o e matei-o. Consegui, por ser maior de idade, ficar com todos os bens da minha família, já que eu era adotado de forma legítima, mas isso somente após provar a minha inocência no crime cometido. Voltei a viver na minha casa e passei os cinco anos seguintes nesta existência solitária até te conhecer. Eu faço faculdade à noite mas, como tu, não me dou com ninguém. – Tu nem pareces ter dezoito, quanto mais vinte e três! – Permanecemos na forma que temos ao sermos transformados e não envelhecemos nunca. Ficarei assim por toda a eternidade, ou até que aconteça um milagre. – Vejo que sofreste muito, Gustavo. – Espontaneamente ela pega seu rosto e beija-o. – Acho que agora entendo o que me quiseste dizer. – Fico feliz por isso, Livinha. – E esses lances de alho, cruz, igreja. É verdade? – Pergunta, sempre curiosa. – Para mim, isso tudo ainda parece uma loucura rematada! – É tudo lenda. Teve até uma época que eu me escondia dentro de uma igreja, quando fugia de tudo e de todos. – Ele dá uma risada. – Vejo que não queres mais pular da chaminé e isso me deixa muito feliz, meu amor. – Não, realmente não desejo mais. Obrigada, Gustavo, me ajudaste muito. Acho que tu apareceste na hora exata. Quando chegam à casa da moça, ele beija-a por muito tempo que, ofegante, corresponde abraçando-o. Quando pausam o beijo, ela encosta a cabeça no seu ombro e fica quietinha, até que se despede com mais um beijo e entra em casa, sentindo uma coisa nova, algo que se chama de felicidade. ― ☼ ―
Posted on: Sun, 06 Oct 2013 03:55:02 +0000

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