Património. Estes historiadores de arte foram à guerra Uma - TopicsExpress



          

Património. Estes historiadores de arte foram à guerra Uma pequena unidade militar formada por académicos ligados à arte e jovens directores e conservadores de museus, mais habituados à escultura clássica, a manuscritos antigos e à pintura do Renascimento do que a metralhadoras, barricadas e quartéis. A guerra estava perto do fim, mas isso não significava que os tesouros da cultura europeia estivessem fora de perigo, muito pelo contrário. Temia-se que, na retirada, as tropas alemãs fizessem questão de destruir as centenas de milhares de obras de arte que tinham confiscado às grandes colecções públicas e privadas dos territórios conquistados para o grande museu que Hitler, imaginando-se vitorioso, tinha sonhado construir em Linz, cidade austríaca cuja completa renovação tinha planeado cuidadosamente. Centenas de milhares de obras de arte que, entretanto, tinham sido escondidas - tal como muitas das mais importantes dos museus alemães - em castelos, mosteiros e minas de sal espalhadas pelo país. Entre elas estavam Botticellis dos Uffizi, relíquias húngaras com mais de 700 anos, Leonardos de colecções privadas polacas, auto-retratos de Rembrandt e até Vermeers comprados pelo próprio führer. Hitler, que falhara como artista, fizera do futuro museu de Linz um dos seus projectos de eleição e, como sempre, queria o melhor do que a arte tinha para oferecer nas suas galerias e não olhava a meios. Mas o avanço das tropas aliadas trouxe consigo um singular, mas eficaz, pelotão de voluntários cujo único objectivo era proteger os tesouros artísticos - bens móveis e património arquitectónico -, tanto quanto era possível num cenário de conflito mundial. Começaram, em 1943, por ser menos de uma dúzia de britânicos e americanos, arriscando a vida permanentemente para resgatar objectos de valor incalculável, mas pouco a pouco, e em grande parte graças ao general Dwight D. Eisenhower, do exército dos EUA, passaram a 350 efectivos, de 13 países, dispersos por várias frentes da guerra. O seu trabalho só terminaria seis anos depois do fim dos confrontos, tendo restituído aos seus donos, muitos deles judeus espoliados depois de deixarem à pressa a Alemanha, a França ou a Polónia, cinco milhões de objectos, lembra um artigo da revista da Universidade de Princeton, que teve vários académicos a trabalhar nos Monuments, Fine Arts and Archives Services, o corpo militar que viria a ser conhecido como os homens dos monumentos. The Monuments Men é precisamente o título do filme que George Clooney vai apresentar em antestreia na próxima edição do Festival de Berlim, que começa a 6 de Fevereiro. E a recém-descoberta num apartamento de Munique, por trás de uma parede de centenas de latas de comida fora de prazo, de 1400 obras desaparecidas desde a II Guerra, boa parte delas provavelmente confiscada pelos nazis, não podia tornar o tema mais actual. Mais de cinco milhões de bens culturais roubados pelos nazis foram restituídos aos seus países de origem nos anos que se seguiram à II Guerra, disse aos jornalistas o director da Berlinale, Dieter Kosslick, a propósito do novo filme do homem que associamos a Boa Noite, e Boa Sorte, Nos Idos de Março ou Nas Nuvens, e que agora podemos ver no cinema ao lado de Sandra Bullock em Gravidade. Tal como demonstra a descoberta de Munique, o roubo de arte dessa época está tão actual como sempre. The Monuments Men dá a este tema pouco conhecido um público mundial. Para escrever o argumento do filme com Grant Heslov, colaborador habitual, Clooney, que é também o realizador, baseou-se num livro de Robert M. Edsel (The Monuments Men: Allied Heroes, Nazi Thieves and the Greatest Treasure Hunt in History, com Bret Witter), autor e homem de negócios que se tem dedicado a investigar a recuperação de obras de arte durante a guerra e que está por trás de uma fundação e de um programa educativo dedicado aos homens dos monumentos. É Edsel quem, numa entrevista à televisão britânica BBC, fala da estratégia de Hitler para usar a arte como forma sofisticada de propaganda, associada à ambição de vir a construir o grande museu de Linz. É ele que explica que os nazis tinham listas detalhadas do que pretendiam saquear à medida que iam invadindo países. Sabiam o que queriam e onde estava o que queriam e, quando encontravam as peças pretendidas, fotografavam-nas e catalogavam-nas em álbuns de apresentação destinados ao führer, a quem cabia depois a escolha final, explica o autor. Chamo-lhe a maior caça ao tesouro da História porque literalmente centenas de milhares de obras de arte estavam escondidas em castelos e minas. Foram estes homens e mulheres que arriscaram a vida para os localizar, restituindo obras como Dama com Arminho, de Leonardo da Vinci, ou O Nascimento de Vénus, de Sandro Botticelli, aos seus verdadeiros donos. Eram também os homens destes pelotões especiais que faziam o reconhecimento do terreno, dizendo aos aliados onde podiam e não podiam bombardear: Salvaram igrejas com frescos da Renascença de serem desmanteladas, e o cemitério antigo de Pisa, exemplifica Edsel, também autor de The Rape of Europa: The Fate of Europes Treasures in the Third Reich and the Second World War (livro e documentário), defendendo que todos os amantes de arte que hoje se deixam maravilhar por uma pintura ou um vitral numa catedral italiana ou num museu europeu devem muito aos homens dos monumentos. Assunto sério The Monuments Men, que conta com um elenco de luxo - além de Clooney há ainda Matt Damon, Bill Murray, John Goodman, Jean Dujardin, Bob Balaban e Cate Blanchett -, não é um documentário, disse várias vezes o actor e realizador à imprensa americana, explicando por que razão os nomes destes soldados da arte foram alterados e parte das situações do filme ficcionadas: 80% do que mostramos aconteceu, mas às vezes exageramos um bocadinho porque queremos que, mesmo sendo um assunto muito sério, seja tão divertido de ver como foi de fazer, diz Clooney, referindo-se ao enorme prazer que foi ver Goodman e Murray, este último um grande amigo com quem costuma passar parte do Verão, vaguear pelos cenários de uniforme ou aparecer no estúdio mesmo nos dias em que não tinham cenas para filmar. O assunto sério - o da restituição de obras de arte que fazem parte da cultura e do imaginário ocidentais - continua em aberto, sublinha o realizador, com muito ainda por fazer. O apartamento de Munique, que pertence a Cornelius Gurlitt, 79 anos, filho de Hildebrand Gurlitt, é disso prova. Hildebrand, o pai de Cornelius, foi recrutado pelo próprio Goebbels, ministro da Propaganda e homem de confiança de Hitler. Viria a fazer parte de um grupo encarregue pelo Reich de reunir as obras para o novo museu de Linz e de localizar para destruição futura as que eram consideradas degeneradas (os artistas que não agradavam ao líder, muitos deles modernos, por não se inserirem na estética aprovada pelo Reich). Quando aceitou a tarefa, Hildebrand era um historiador respeitado, conhecido pelo seu apreço pelos autores mais modernos, e fora afastado de vários cargos públicos com a chegada dos nazis ao poder, em 1933, porque uma das suas avós era judia, facto que Hitler estaria disposto a esquecer, ao que parece, porque chegou a oferecer-lhe a direcção do Führermuseum. A quem pertencem? Documentos agora publicados na página da Monuments Men Foundation for the Preservation of Art, resultantes de uma investigação conduzida por Marc Masurovsky, que criou o Holocaust Art Restitution Project, provam que militares ligados à brigada dos homens dos monumentos restituíram a Hildebrand Gurlitt, depois da guerra, cerca de 140 obras de arte, entre elas 115 pinturas e 19 desenhos, que tinham recuperado e que farão hoje parte do lote de 1400 de Munique. Hildebrand terá alegado logo a seguir à guerra que, sendo de ascendência judia, tinha sido ele próprio vítima dos nazis e privado daqueles objectos. Da lista de peças que lhe foram restituídas em Dezembro de 1950 fazem parte pinturas de Otto Dix, Max Beckman e Marc Chagall, artistas representados, segundo as autoridades alemãs, entre as centenas de pinturas e desenhos do apartamento de Cornelius. A polícia alemã recusou-se, até agora, a divulgar o inventário do conteúdo da casa do quase octagenário, o que tem sido muito criticado pelos hipotéticos donos e até pelo Departamento de Estado, em Washington. Se Masurovsky estiver certo em apoiar a sua teoria nos registos efectuados pelos homens dos monumentos, é bem provável que este inventário inclua ainda pinturas de Courbet (O Pai e Paisagem com Rochas), Guardi (Entrada de um Mosteiro) e Fragonard (Anna e a Sagrada Família). Não significa, no entanto, que Cornelius não seja o legítimo dono de algumas destas obras - o seu pai negociava em arte e era próximo de muitos artistas, mas é preciso avaliar se, mesmo tendo sido por ele compradas, se não o foram em condições vergonhosas, vendidas por preços irrisórios e com os seus anteriores proprietários delas privados contra vontade. A família do importante marchand Paul Rosenberg já veio reclamar o Matisse que as autoridades mostraram na conferência de imprensa numa fotografia de muito má qualidade, e Michael Hulton, um médico de São Francisco que é sobrinho-neto de Alfred Flechtheim, famoso coleccionador de arte que se viu obrigado a fugir de Berlim em 1933, também fez saber que prevê que muitas obras pertencentes à sua família estejam entre as encontradas em Munique. Muitos mais estão certamente para vir, mas, segundo a edição de ontem da revista alemã Focus, responsável pela divulgação em primeira mão da descoberta do lote de 1400 obras com um valor estimado de mil milhões de euros, as autoridades alemãs acreditam que boa parte das peças será restituída a Cornelius. Segundo a AFP, a Focus cita um relatório dos serviços alfandegários centrais alemães em que é dito que uma parcela do espólio - 315 obras, para sermos exactos - foi confiscada pelos nazis a museus nacionais, regionais e municipais por ser considerada arte degenerada e depois vendida muito abaixo do seu real valor. Hildebrand Gurlitt pode tê-las comprado, então, em situação muito vantajosa. Se for este o caso, os direitos dos proprietários iniciais ou dos seus descendentes não podem aplicar-se, garante o relatório. Adivinha-se uma longa batalha envolvendo os herdeiros dos anteriores donos e Cornelius Gurlitt, que estava até agora em parte incerta e que este fim-de-semana, de acordo com a revista francesa Paris Match, foi visto às compras perto do bairro onde mora.
Posted on: Mon, 11 Nov 2013 22:04:46 +0000

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