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Recentemente, a jornalista potiguar Micheline Borges afirmou que as médicas cubanas não possuem aparência de médica, mas sim de empregadas domésticas. De acordo à mesma, o médico já se impõe pela aparência, a qual é fundamental para a confiança do paciente no profissional. Sendo assim, a mulher negra com cabelo crespo, para ela, não preenche o perfil de um médico. Ao mesmo tempo, a mídia vem apresentando Luciane Hoepers como elemento principal de uma quadrilha de fraude contra o setor público. A mesma é loura e formada em Administração. Esse fato está fazendo com que a mesma ganhe mais mídia e deixe perplexa grande parte da sociedade, pois o estereótipo da loura, bonita e com graduação superior parece não ser adequado para uma criminosa. O que aprendemos com isso ? Muito simples. A sociedade brasileira trabalha com estereótipos e se recusa a aceitar que há elementos que se recusem a aceitá-los. Nos períodos colonial e Imperial, houve escravidão e se formou o lugar comum que pele branca, cabelo liso e, se possível, louro e religião cristã são símbolos de status. Em contrapartida, pele negra, cabelo crespo e religiões não-cristã, principalmente se de origem africana, são símbolos de exclusão social. Até os próprios negros buscavam o embranquecimento da pele usando termos como moreno, moreno escuro e outros para negar a negritude e, portanto, para se afastar do preconceito e da discriminação. O casamento e a geração de filhos com pessoas brancas também era uma forma de buscar ascensão social. Estamos em 2013, portanto, já se passaram 125 anos da abolição da escravidão, porém certas barreiras insistem em não cair. É automático. As pessoas negras não são associadas a profissões de bom crédito social. Ao ver um negro, dificilmente você o associará à Medicina, à Magistratura, à Advocacia ou à gerência de empresas. Até aí tudo bem. O problema é que os associam não apenas às profissões menores(engraxate, flanelinha, empregada doméstica, gari, lavadores de carros, pedreiro...), mas também nos associam à criminalidade. Gratuitamente os negros são associados à criminalidade. Enquanto isso, os brancos continuam desfrutando do paradigma que os coloca acima da suspeita da polícia e teoricamente em posições superiores. Não quero aqui dizer que não existe nenhuma relação entre negros e criminalidade, pois seria uma afirmação falsa. Por questões históricas e sociais, os negros foram empurrados para a exclusão social e para a criminalidade, principalmente porque a falta de educação formal e de qualificação técnica para o trabalho e o racismo da classe dominante os impediu de obter qualquer forma de ascensão social. O que gostaria que ocorresse é que as pessoas fizessem uma análise mais minuciosa que fosse além dos estereótipos e das questões étnica e de cor. Se as pessoas fizessem esse tipo de análise, não teríamos tantos negros inocentes sendo presunçosamente tidos como culpados, assim como não estaríamos tão surpresos que uma loura de cabelo liso e curso superior possa ser considerada membro de quadrilha perigosa.
Posted on: Tue, 01 Oct 2013 22:21:18 +0000

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