A relação entre Ciência e Metafísica Popper tratou da - TopicsExpress



          

A relação entre Ciência e Metafísica Popper tratou da espinhosa relação entre Metafísica (ou Filosofia) e Ciência já na sua Lógica da Pesquisa Científica, mais especificamente na seção 85. Ele sustenta que algumas ideias metafísicas podem se tornar científicas e cita como principais exemplos dessa transformação, o atomismo, a antiga teoria corpuscular da luz e a teoria da eletricidade como fluido. Afirma ainda que, essas ideias metafísicas, mesmo em suas formas primitivas, ajudaram o homem a introduzir ordem no mundo e, em alguns casos, fizeram previsões bem sucedidas. Na seção 33 da sua Autobiografia Intelectual Popper elabora o conceito de “programas de pesquisa metafísica”. Essa ideia foi considerada importante por Popper, que a abordou por diversas vezes ao longo de sua carreira, e por diversos de seus discípulos, que acabaram por examiná-la mais detidamente e desenvolvê-la além dos limites tratados por Popper. Ele afirma que as teorias metafísicas, na medida em que são tentativas feitas no sentido de resolver problemas, são racionais, visto que podem ser submetidas ao crivo da crítica e da argumentação. Além de serem racionais, podem exercer um papel heurístico na ciência, isto é, elas auxiliam na elaboração de novas teorias, determinam modos de interpretá-las, ou até mesmo, como sugere Popper, lançam luz sobre pesquisas de caráter concreto e prático. Como podemos perceber, Popper limita a área de atuação das ideias metafísicas à heurística das teorias científicas. Porém, não é isso o que mostra a história da ciência. Podemos ver, por exemplo, como o mecanicismo – concepção do universo como um mecanismo de relógio – exercia um papel importante no contexto de validação das teorias científicas. Descartes afirmava que qualquer hipótese científica que ele pudesse abraçar deveria ser tal que se conformasse à sua metafísica. Boyle fez a mesma afirmação acerca de sua própria metafísica semi-cartesiana, e o mesmo fez Newton a respeito de sua própria metafísica (em seu prefácio e no Escólio Geral aos Principia). Popper amplia o campo de atuação da Metafísica no terceiro volume de seu Pós-Escrito à Lógica da Pesquisa Científica, apesar de começar a sua exposição reiterando o papel das ideias metafísicas na heurística das teorias científicas. Ele reconhece que ... em quase todas as fases do desenvolvimento das ciências estamos sob a influência de ideias metafísicas, isto é, ideias não testáveis, ideias que não só determinam os problemas de explicação que vamos escolher, como também os tipos de respostas que vamos considerar corretos, satisfatórios ou aceitáveis e como melhoramentos ou progressos relativamente a respostas anteriores. Popper defende também que as teorias metafísicas são criticáveis, mas ele nada fala sobre o modo de como efetivamente ocorre essa crítica. Ele defendeu por toda a sua vida acadêmica que as teorias científicas são criticáveis em razão de se submeterem ao controle empírico. Com isto ele quer dizer que o controle empírico é um instrumento de decidibilidade entre teorias rivais. Porém, o mesmo ele não defende para as teorias metafísicas. Ele chegou a afirmar em sua Lógica da Pesquisa Científica que “as classes de falseadores potenciais de todos enunciados tautológicos e metafísicos são vazios.” Então se a testabilidade, isto é, o controle empírico, não pode ser arrogado como critério de seleção entre teorias metafísicas rivais, então no que consiste sua racionalidade, ou como se dá esse processo de critica das teorias metafísicas? Popper formulou um critério de decidibilidade pragmático. Ele propôs que toda teoria racional, seja científica ou filosófica, é racional na medida em que procura resolver determinados problemas. Uma teoria só será compreensível e razoável em relação a uma certa situação-problema; só poderá ser discutida racionalmente discutindo-se essa relação. Segundo Popper, se considerarmos uma teoria como solução proposta para certo conjunto de problemas, ela se prestará imediatamente à discussão crítica, mesmo que seja não-empírica e irrefutável. Essa afirmação é um tanto vaga, e, Popper reconhecia isso. Tentou esclarecê-la atribuindo à fertilidade o principal fator responsável pela decidibilidade entre teorias metafísicas rivais. Essa fertilidade consistia em apontar como as respectivas teorias metafísicas poderiam guiar o desenvolvimento de novas teorias físicas. Contudo, como chamou a atenção Michael Redhead, o conceito de fertilidade torna o critério elaborado por Popper demasiadamente subjetivo. Agassi também formulou um critério de decidibilidade entre teorias metafísicas, só que indireto e dependente da ciência. Segundo ele, Duas concepções metafísicas diferentes oferecem duas interpretações diferentes de um corpo de fatos conhecidos. Cada uma dessas interpretações se desenvolve em uma teoria científica, e uma das teorias científicas é derrubada num experimentos crucial. A metafísica por trás da teoria científica derrotada perde seu poder interpretativo e é então abandonada. É assim que alguns problemas científicos são relevantes para a metafísica; e em geral é a classe de problemas científicos que exibe essa relevância que é escolhida para estudo. O problema neste critério é tornar a metafísica parasitária da ciência. Como afirma acertadamente Redhead “a física e a metafísica se mesclam em um todo inconsútil, em que uma enriquece a outra; e que, na verdade, nenhuma delas é capaz de progredir sem a outra.” A relação entre a ciência e a metafísica é simbiótica e não parasitária. Laudan, por sua vez, reconhece que sistemas metafísicos também buscam resolver problemas empíricos. Cita como exemplo, o problema da identidade dos objetos físicos que consiste em explicar a aparente persistência dos objetos no tempo. Esse problema assumiu grande importância na ontologia da mecânica quântica, devido ao caráter efêmero de algumas partículas. Porém, ao formular um critério de escolha entre sistemas metafísicos, Laudan defende uma avaliação conforme a progressividade desses sistemas. Assim, deparamo-nos novamente com a subjetividade já vista na proposta popperiana. Diante do exposto, não temos ainda um critério de avaliação dos diferentes sistemas metafísicos. Essa carência tem levado muitos cientistas e filósofos a abraçar o relativismo ontológico proposto por Quine , o qual se limita a não atrapalhar o desenvolvimento da ciência e não esclarece qualquer problema conceitual ou fornece insights para desenvolvimentos teóricos.
Posted on: Wed, 14 Aug 2013 01:38:45 +0000

Trending Topics



Recently Viewed Topics




© 2015