"Enquanto a chuva caía na "Estância do Passo", os três peões mateavam com os olhos voltados ora pra rua, ora pra o fogo. A prosa corria solta, era sobre os cavalos, a vida na estância e sobre a bondade do patrão em dar-lhes sempre atenção de irmãos, trava-os como iguais, co família. Mas eles sonhavam ter seu próprio campo, ter seus cavalos e conversavam sobre o que é mais importante pra se ter uma vida feliz. Para um, uma tropilha de lei, com morfologia impecável e matrizes de preceito, para servir de sustento. Outro já pensava em campos, implementos e sementes para formar uma colheita farta. O último, sonhador nato como seus colegas, sonhava com gado gordo, campos verdes, uma mulher generosa e filhos para alegrar seu dia. Nisso o piá, filho do patrão, que tratava todos os três por "tio", entra no galpão de botas bem maiores que os pés, bombachas de trabalho esfiapada, lenço maior que o próprio corpo, camisa domingueira listrada, abotoada até o último botão e um chapelão de aba larga, bem tapeado, amanoceando um redomão bravio feito de pau de cabo de enchada. Estava o piá com relho de marmelo em punho e gritos de "iá haá haá" de toda a goela, saracoteando e imitando os movimentos dos peões gineteando... A risada foi inevitável e os olhos dos três se voltaram para si, a felicidade por vezes era maior do que a esperada, afinal tinham casa, tratamento de irmãos e a gentileza do filho que considerava cada um deles como da família, seus tios queridos, que sem perceber serviam de inspiração para o crescimento e desenvolvimento do homem dentro do piá. Os olhos marejavam e eles, como que se tivessem combinado, gritavam e ao mesmo tempo torciam em voz alta, fervorosamente para aquele mini ginete amansar o redomão de pau e mostrar que bom ginete se moldava de menino. Eram os cernes fomentando a essência dentro do piá de botas grandes, o espelho da generosidade, trabalho e respeito semes na mente debaixo do chapelão..." Mário Terres
Posted on: Mon, 26 Aug 2013 18:34:46 +0000